Crédito: Hiromi Nagakura, Arina Yanomami – Aldeia Demini – Watoriki, 1990.

No dia 11 de junho de 2024, o Centro Cultural Banco do Brasil Brasília inaugura a exposição “HiromiNagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, mostra idealizada pelo Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo. Com curadoria de Ailton Krenak e curadoria adjunta de Angela Pappiani, Eliza Otsuka e Priscyla Gomes, a exposição apresenta 120 fotografias inéditas no Brasil do premiado fotógrafo japonês Hiromi Nagakura, realizadas em viagens com Krenak, principalmente pelo território amazônico, entre 1993 e 1998. 

A mostra, com entrada gratuita, ficará em cartaz na Galeria 01 do CCBB Brasília, de 11 de junho a 18 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 21h, sendo a entrada na galeria até às 20h40. 

O público poderá participar de conversas entre o curador e lideranças indígenas de diversas etnias, realizadas em torno da exposição, além de vivências e de uma oficina de trançado buriti com lideranças Xavante. 

Reforçando o compromisso do CCBB com a acessibilidade e democratização do acesso à arte e cultura, a ação “Vem pro CCBB”, que conta com uma van para transporte gratuito de visitantes, estará à disposição do público para viabilizar mobilidade com vistas à visitação, partindo do ponto no centro da capital (em frente à Biblioteca Nacional) até o CCBB Brasília.

A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Depois de Brasília, a mostra segue para o CCBB Belo Horizonte.

PERCURSO DA EXPOSIÇÃO

A exposição está dividida nos dois andares da Galeria 1 onde, logo na entrada, o visitante será recebido por cantos tradicionais das etnias representadas na exposição e visitadas por Nagakura e Krenak, com imagens que remetem à floresta e ao cerrado. Registros da vida nas aldeias, interação entre os membros das comunidades, rituais e costumes, levam a uma imersão nos povos da floresta, Huni Kuin, Yawanawá, Ashaninka e Yanomami. Objetos de uso típico ou ritual poderão ser manuseados pelo público e terão audiodescrição. Os povos do cerrado, Krikati, Gavião e Xavante também foram fotografados e terão um espaço dedicado a eles e, em especial, às crianças..

A mostra conta ainda com registros em vídeos, que apresentam o trabalho de Nagakura em viagens por outros continentes, cenários de conflitos mundiais e rituais e celebrações típicas de povos ao redor do mundo, e outro, intitulado “Conversa na Rede”, produzido pelo Ciclo Selvagem, que apresenta um encontro entre Nagakura e Ailton que juntos recontam trechos da viagem e aprofundam suas conversas sobre a floresta, a fotografia e o mundo.

VIAGENS AO LONGO DE CINCO ANOS

As viagens de Nagakura e Krenak levaram quase cinco anos, de 1993 a 1998, dezenas de horas, sempre na companhia da produtora e intérprete Eliza Otsuka.

A exposição, acompanhada dos encontros, é o resultado de uma “união de esforços para fazer uma celebração em torno dessa amizade alimentada pelo sonho e beleza da obra do fotógrafo HiromiNagakura”, diz Ailton Krenak.

Segundo Krenak, a mostra traz algumas das belas imagens das viagens às aldeias e comunidades na Amazônia brasileira. “Momentos de intimidade e contentamento entre ‘amigos para sempre’ inspiraram esta mostra fotográfica mediada por encontros com algumas das pessoas queridas que nos receberam em suas cozinhas e canoas, suas praias de rios e nas aldeias: Ashaninka, Xavante, Krikati, Gavião, Yawanawá, Huni Kuin e comunidades ribeirinhas no Rio Juruá e região do lavrado em Roraima”, destaca o curador. As viagens alcançaram os estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo e Amazonas. A aproximação entre Krenak e Nagakura começou numa conversa, sentados em esteiras, na sede da Aliança dos Povos da Floresta, no bairro do Butantã, em São Paulo, onde se conheceram, quando Eliza Otsuka apresentou o plano de viagens de Nagakura. “Ela [Eliza] resumiu com estas palavras o conceito todo do projeto para alguns anos dali para frente: ele vai ser a sua sombra por onde você for, quando estiver dormindo e quando estiver acordado”, recorda-se Krenak. Esta história toda está reunida em um dos livros escrito em nihongo, publicado pela editora Tokuma (Tóquio, 1998), intitulado “Assim como os rios, assim como os pássaros: uma viagem com o filósofo da floresta, Ailton Krenak”, assumido por Krenak como a sua biografia feita por HiromiNagakura. 

SOBRE O ARTISTA 

Hiromi Nagakura nasceu em 1952 na cidade de Kushiro, ao norte da ilha de Hokkaido, no Japão. Desde criança, amou gente e a natureza, interessado em pessoas e culturas de outros lugares do mundo. Sentia-se atraído pelo novo, pelo desconhecido. Viajou para destinos diversos, visitou as ilhas do Pacífico Sul, entrou em contato com povos nômades do Afeganistão. Foi então que sentiu a necessidade de documentar seus encontros e começou a praticar e se aperfeiçoar nas técnicas da fotografia. Para ele, desde o início, a fotografia sempre foi um instrumento para se relacionar com o mundo e a diversidade de culturas, paisagens e pensamentos. Formou-se em direito, mas seguiu a carreira de fotógrafo. Trabalhou na agência noticiosa Jiji Press porque admirava os fotógrafos reconhecidos por seus trabalhos de cobertura de guerras. Em 1979, com 27 anos, Nagakura decidiu tornar-se fotojornalista independente, caminho que acabou levando-o a conhecer a África do Sul, Zimbábue, União Soviética, Afeganistão, Turquia, Líbano, El Salvador, Bolívia, Peru, Brasil, Indonésia, México, Groenlândia e vários outros países, em todos os continentes. Realizou centenas de viagens e exposições, publicou dezenas de livros, foi personagem de inúmeros documentários, escreveu reportagens, ministrou oficinas e palestras, recebeu prêmios. 

SOBRE O CURADOR 

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953 no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, quando o povo Krenak vivia no exílio, expulso de seu território tradicional por invasores que ocuparam e depredaram as matas densas às margens do Watu, como o povo originário chama seu avô-rio. Depois, nos anos de ditadura, a antiga aldeia Krenak foi transformada em prisão indígena, testemunha da violência contra os povos que insistiam em desafiar a ordem imposta vivendo de um modo diferente. Ailton viveu parte de sua vida em São Paulo, onde estudou e começou sua militância no movimento que começava a surgir no final dos anos 1970, reunindo indígenas de muitas etnias em torno de uma luta comum por direitos. Sua imagem pintando o rosto de preto no Congresso Nacional tornou-se símbolo da resistência indígena na Constituinte. Coordenou a União das Nações Indígenas, o Núcleo de Cultura Indígena, o Centro de Pesquisa Indígena, a Embaixada dos Povos da Floresta e a Aliança dos Povos da Floresta ao lado de seringueiros, extrativistas e ribeirinhos pela vida da (e com a) Floresta. Regressou nos anos 2000 a seu território, que ajudara a consolidar em 1999. Hoje vive às margens do Watu, ferido pela lama do rompimento da barragem de dejetos da Samarco em 2015. Ali o povo se fortalece, rememora a língua e os ritos, restabelece a vida. Nos últimos anos, Ailton Krenak tem se dedicado à manifestação do pensamento através do som e do poder sagrado das palavras, refletindo sobre temas que afetam a todas e todos nós, seres vivos de todas as humanidades, companheiros da mesma canoa Terra que navega no firmamento. Suas palavras estão registradas em livros que nos aproximam da cosmologia dos povos originários e confrontam nossa vida cotidiana. Autor de Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A vida não é útil (2020) e Futuro ancestral (2022). É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade de Brasília (UNB) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Em 2023, foi eleito como membro da Academia Brasileira de Letras e Academia Mineira de Letras